[attack of the bogey man]

Quarta-feira



A maior ameaça que enfrentamos agora como nação é a possibilidade de terroristas acabarem no meio de uma das nossas cidades com armas mais mortais do que aquelas que alguma vez foram usadas contra nós – agentes biológicos ou uma arma nuclear ou uma arma química de algum tipo para ameaçarem a vida de centenas de milhares de americanos.
Esta é a última ameaça. Para termos uma estratégia capaz de derrotar esta ameaça, temos primeiro de nos mentalizar para esta possibilidade.


Foram estas as declarações de Dick Cheney proferidas ontem numa sessão de campanha. Acirrando ainda mais o discurso do medo, Cheney pôs em causa a credibilidade do candidato democrata John Kerry de ser capaz de lidar com tal ameaça de uma forma tão dura e agressiva como a do presidente Bush.
Não penso ser possível a uma pessoa que ame a democracia não se repugnar com a forma como estes republicanos saltaram para dentro da caravana do pós-11/9 como se fosse património seu. O modo como agitam os fantasmas da paranóia e do medo para legitimar (com o Patriot Act e seus sucedâneos) um dos maiores atropelos à liberdade individual que a América conheceu desde os tempos da guerra fria. E é realmente esse o peixe que eles querem vender. Como o próprio Rumsfeld descreveu, esta guerra ao terrorismo é a nova guerra fria, uma guerra que pode durar décadas e que se tornará uma espécie de nova normalidade (new normalcy) do modo de vida americano. They wish.

E porque é que eu me hei-de interessar com as eleições americanas? Sei lá, eu preocupo-me com estas coisas. Mas eu preocupo-me com tudo. Preocupo-me com o poder de um sistema capaz de vender tudo, mesmo o pior produto, como George Bush. É fácil ridicularizar o labrego do Texas, mas quem olhe com atenção para a campanha de Bush vê o profissionalismo investido na criação de uma imagem de presidente com coração – o conservadorismo com compaixão dos tempos modernos. Ver Bush com a mulher no Larry King foi como espreitar o que nos reserva a linguagem política do futuro: a política como simulação da verdade, reduzida a uma espécie de reality show que só faz sentido nos tempos e códigos televisivos (deixando de existir fora deles). E isto devia fazer acender uma luzinha nas nossas cabeças quando vemos o que se está a passar em Portugal.
Preocupam-me estes conservadores com compaixão que arregaçam as mangas para falar com o povo para depois das eleições voltarem a pôr as gravatas e os ares soturnos com que encaram a vida. Com que se mobilizam para cumprir a agenda de interesses inconfessáveis e jogam com a vida de milhões reduzidos ao papel de peão dos seus jogos de xadrez político. Bem vindos às Corporações Unidas da América.

E já agora, se tiverem tempo e banda-larga para isso, vejam o Jon Stewart a desancar no Crossfire da CNN: Filme em formato QuickTime / ficheiro longo.

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