World Science Festival



Está a decorrer em Nova Iorque o World Science Festival, uma celebração de quatro dias dedicada à exploração científica que tem como um dos seus principais promotores o físico Brian Greene.
O programa de eventos é simplesmente extraordinário e todos aqueles que, como eu, não podem estar presentes, devem ficar atentos às novidades publicadas no World Science Festival blog bem como ao acompanhamento online feito pelos membros do TEDBlog.
Fica a indicação, como curiosidade, para um debate agendado para esta tarde com o tema Science of Morality. Participa, entre outros oradores, o neurocientista português António Damásio, num evento em que se reflecte sobre como a compreensão científica da moralidade, do certo e do errado, pode ser influente na actuação da sociedade.

World Science Festival
The World Science Festival is undergoing in the city of New York. It’s a four day celebration dedicated to the scientific exploration and discovery, created by theoretical physicist Brian Greene.
The program is simply overwhelming. If you can’t attend in person, stay tuned to the online coverage on the World Science Festival blog and on TEDBlog.
A special highlight goes to today’s debate on the Science of Morality featuring, among other speakers, the Portuguese neuroscientist António Damásio, discussing the ways in which the scientific understanding of morality may influence society.

Wendell Burnette: Maryvale Community Center


Scroll down to read this text in English.

O projecto do Centro Comunitário de Maryvale / Biblioteca de Palo Verde é um exercício em contenção arquitectónica. Está tão enraizado no seu contexto e é tão despido de grandes gestos formais que sobressai como exemplo do que pode ser conseguido através de escolhas racionais e adequadas de design.
Concebido pela firma Wendell Burnette Architects, este equipamento público tem como elementos principais dois blocos idênticos: a instalação da biblioteca e um ginásio. A simplicidade dos volumes é determinada pela sua textura pura. Uma superfície envidraçada contínua ao nível térreo reforça a proximidade visual entre espaços interiores e exteriores. A parte superior de ambos os edifícios é envolta em lâminas de aço inox de acabamento industrial, conferindo uma expressão sólida e linear.
Existem muitos pormenores complementares de desenho que revelam preocupações com aspectos ambientais, no que respeita à poupança de energia, à utilização de materiais reciclados e recursos renováveis. Mais interessante, esta arquitectura revela enorme discernimento quanto ao tipo de decisões que se podem tomar durante a fase de projecto, quanto à adequação entre custo e benefício, entre a expressão e o propósito.
Uma arquitectura que está conscientemente determinada em providenciar um ambiente enriquecedor, onde o hardware não é a preposição dominante. Cuja intenção não é imperar mas servir.

Wendell Burnette: Maryvale Community Center
The project for the Palo Verde Library / Maryvale Community Center is a delightful exercise on architectural restraint. It’s so deeply rooted in its context and so devoid of visual gimmicks that it really stands out as an example of what can be achieved through rational and adequate design choices.
Conceived by Wendell Burnette Architects, this public service facility is mainly composed by two equally scaled buildings: the library installation and a gymnasium. The simplicity of the volumes is determined by its pure texture. A continuous glass surface on ground level reinforces the visual proximity between internal and external spaces. The upper portion of both buildings is enveloped in mill finish stainless steel, conveying a solid and linear expression.
There are many interesting complementary aspects to the design that reveal great concern with environmental issues regarding energy savings, recycled materials and use of renewable resources. Most interestingly, its architecture reveals a great discernment as to the kind of choices one can make during the design process, as to the adequacy between cost and benefit, between purpose and expression.
An architecture that is consciously determined to provide a fulfilling environment, where the hardware is not the dominant preposition and is intended not to overcome but to serve.


¶ Read the rest of this entry

Agro-urbanismo

O fenómeno da agricultura no meio urbano foi quase sempre entendido como actividade subsidiária, marginal, da vida das cidades. Espécie de ocupação errática dos baldios, apropriações avulsas das classes desfavorecidas em espaços sobrantes de pouco valor e fraca qualificação, ao abrigo de transposições bucólicas da “vida do campo”.
Começamos hoje a compreender o preconceito por detrás destes juízos, entendendo o agro-urbanismo como uma categoria importante na designação do todo urbano. Assistimos ao aumento continuado dos preços de bens alimentares em consequência de um fenómeno de escassez à escala global. As preocupações perante esta nova realidade começam a tomar forma em diversas propostas de modelos de exploração agrícola no território das cidades. De dimensão local ou expressão utópica, vale a pena conhecer o fruto de algumas destas investigações em dois artigos recentes, a descobrir no Landscape+Urbanism e no URB.

Texto relacionado: Europan 9: Poïo.

Agro-urbanism
Agriculture in urban space was always perceived as a subsidiary phenomenon, a marginal activity in city life. An erratic occupation of urban voids by underprivileged classes.
We are beginning to understand the prejudice behind such judgements, recognizing agro-urbanism as an important category of the built environment. With the steady rising of global food prices, new worries are starting to shape exploratory proposals for models of agricultural practice in urban territory.
Of local expression or utopian in nature, they provide an interesting reflection as you can discover on a couple of recent articles published on Landscape+Urbanism and URB.


Related: Europan 9 Poïo.

Team 10 revisitado

Robin Hood Gardens é o nome de um complexo de habitação social (council housing) projectado na década de 60 pelos arquitectos Alison e Peter Smithson. O casal integrou o célebre Team 10, protagonizando um espírito de avant-garde londrina no período pós-guerra e ficando conhecido pela sua cerrada postura crítica face ao “estilo internacional” do modernismo.
A polémica erguida em torno da possível demolição deste conjunto edificado tem percorrido uma boa parte da blogosfera internacional. O arquitecto Pedro Baía aproveita a oportunidade para revisitar a memória do Team 10 num artigo publicado na Artecapital, a não perder.

This text is not available in English.

MoPo 2008

O Eikongraphia acaba de publicar a lista dos mais populares blogs de arquitectura em língua inglesa: o MoPo 2008.

Mopo 2008
Eikongraphia has recently released this year's shortlist of the most popular architecture blogs: the MoPo 2008.

a+t Civilities e Density Series


Civilities II, a+t ediciones.

Civilities é o título da actual série de publicações em lançamento pela editora espanhola a+t, especialmente dedicada à análise de edifícios públicos e equipamentos de uso social.
Apresentando uma selecção apurada de projectos de arquitectura muito recentes e um cuidadoso trabalho de edição incluindo diagramas, desenhos técnicos e recolha fotográfica, dá a conhecer um conjunto extenso de «civic facilities»: bibliotecas, ginásios, centros de saúde, clubes de juventude e equipamentos desportivos, entre outros.
Mais interessante do que uma análise das funções utilitárias de cada projecto é a reflexão sobre os seus impactos enquanto pontos focais na vida das cidades em que se inserem. Tratam-se, quase sempre, de projectos que resultam de uma abordagem participativa das suas comunidades locais, promovendo a interacção e a regeneração da vida pública nas áreas urbanas que as rodeiam.
Fica a recomendação para esta série de revistas de edição muito cuidada e sem publicidade, que dá a conhecer alguma da melhor arquitectura desenvolvida por arquitectos espalhados pelo mundo, com uma apresentação muito informativa e graficamente irrepreensível.


DBOOK, a+t ediciones.

Igualmente interessante é a série de livros da a+t dedicada ao tema da Densidade. O livro DBook reúne 64 projectos de habitação colectiva, analisados em função da sua tipologia de ocupação. É um trabalho muito bem realizado que aprofunda a relação entre a densidade e a expressão urbana da arquitectura, reunindo projectos em realidades muito diversas.


Density: New Colective Housing and Density Projects, a+t ediciones.

Num formato mais leve, o livro Density Projects reúne várias dezenas de projectos não anteriores a 2007. Diferentes modelos de estratégias de ocupação do solo urbano são analisados e comparados, num registo crítico sobre a mudança de conceitos em torno do ambiente construído e a apropriação de recursos resultante da sua implementação.

Visitem a a+t para mais informação sobre estas e outras publicações, bem como pormenores de subscrição.

a+t Civilities and Density series
Civilities is the current series of a+t magazine, specially dedicated to the analysis of public and civic use buildings. It features a careful selection of contemporary architecture projects and is supported by a detailed presentation work, including diagrams and technical drawings. Projects range from libraries to gymnasiums, health centers, nurseries, youth clubs and sports fields, among others.
The critical effort of this publication goes beyond the simple analysis of the utilitarian functions of each building, reflecting upon their impacts as focal points in the life of their cities. These are, for the most part, works that were closely supported by the active participation of local communities, promoting interaction and the regeneration of public life.
I strongly recommend this magazine series for its careful edition, very informative, graphically irreprehensible and without advertising, presenting some of the best public architecture being developed by architects all around the world.
Also worth noticing is a+t series of books dedicated to the issue of Density. DBook presents 64 collective housing projects from diverse realities and focuses on the urban expression of density in architecture. In a lighter format, Density Projects gathers 36 projects in phase of development or execution throughout 2007. Innovative occupation strategies for the built environment are analyzed and compared, reflecting upon their specific qualities and particular impacts.
Visit a+t for additional information on these and other publications, as well as subscription details.

Dificuldades para deficientes

Se perderam o artigo de Clara Ferreira Alves da passada semana no Expresso recomendo-vos a leitura do texto Dificuldades para deficientes, agora disponível online. Os problemas da acessibilidade urbana nas nossas cidades são geralmente reflectidos com base em generalidades e boas intenções. Estas coisas ganham sempre outra expressão quando observadas numa perspectiva directa e pessoal. E se casos como os de Lisboa levantam limitações a quem nos visita, não devem deixar de nos preocupar mais ainda pelos que aqui vivem e se debatem com estas dificuldades todos os dias.

This text is not available in English.

Lisboa por Scott Hansen



Scott Hansen tem vindo a publicar no seu blog um interessante conjunto de fotografias registadas em Lisboa. Esta selecção de imagens pode também ser vista numa compilação reunida no (NON).

Scott Hansen in Lisbon
Scott Hansen has been publishing an interesting collection of photos documenting his passage through Lisbon. This selection of images is also available on (NON) as a compiled set.

WorldWide Telescope



Os mais interessados em astronomia devem estar bem familiarizados com o Google Sky e o Celestia. A Microsoft acaba de lançar uma poderosa adição a estas ferramentas com o seu WorldWide Telescope. Trata-se de um telescópio virtual com um belíssimo sistema de visualização. Oferece, entre muitas funcionalidades, uma plataforma de navegação contínua que permite olhar em qualquer direcção e ampliar até distâncias inimagináveis, desde que tenham uma máquina potente e uma ligação de internet em banda larga.

WorldWide Telescope
Those of you with an interest in astronomy are probably familiar with Google Sky and Celestia. Microsoft’s recently released WorldWide Telescope is a powerful addition to these tools, presenting a virtual telescope with a fascinating visualization system. It provides a seamless navigation platform that allows the user to look anywhere and zoom into unimaginable distances, as long as you have a resourceful machine and a fast online connection.

Mirrorcities



Mirrorcities tem um conceito muito simples. Duas pessoas em lados opostos do globo: uma em Tokyo, outra em Lisboa. Um tema em comum e como esse tema é visto por cada uma das autoras em cada uma das suas cidades.

Mirrorcities
Mirrorcities has a very simple concept. Two women in opposite sides of the globe: one in Tokyo, another in Lisbon. One common theme captured by both authors in each of their cities.

Mark Wigley em entrevista na 0300.TV



Aqui no blog gostamos à brava de Mark Wigley e até sabemos escrever o seu nome. Fica a recomendação para a entrevista que o canal online 0300.TV está a publicar - link directo (parte 1 de 3). Entre outros temas o co-fundador da Volume fala de como muitas academias se estão a tornar em fotocopiadoras de ensinar e da necessidade de promover uma nova mentalidade na prática da arquitectura.
Mark Wigley é decano da Graduate School of Architecture, Planning and Preservation na Universidade de Columbia em Nova Iorque.

An interview with Mark Wigley (0300.TV)
We really like Mark Wigley. We can even spell his name. So we recommend the interview that 0300.TV is currently presenting online - direct link (part 1 of 3).
Among other matters, the co-founder of Volume Magazine talks about how many academies are becoming teaching copy-machines, addressing the need to promote a new mentality in the realm of architectural thinking.
Mark Wigley is the dean of the Graduate School of Architecture, Planning and Preservation of the University of Columbia, in New York.

Mundo Perfeito – um livro, uma exposição


Mundo Perfeito, Fernando Guerra.

Não acredito na objectividade da fotografia. Por mais que muitos tentem apagar as contingências subjectivas da vida quotidiana que contaminam os espaços puros que os arquitectos desenham, uma imagem de um qualquer objecto arquitectónico, ou simplesmente de um objecto, é sempre a imposição de um ponto de vista. De quem fotografa, de quem escolhe o enquadramento, de quem escolhe a luz, o tempo de exposição, o tipo de lente, a máquina. É um olhar que implica uma escolha, ou infinitas escolhas, e é por definição (definitivamente?) subjectivo.
Não acredito no mito do fotógrafo de arquitectura contemplador que acha possível escolher a priori um único olhar sintético que conjugue tudo o que uma obra de arquitectura encerra. A arquitectura depende de inúmeras variáveis, nunca é totalmente apreensível, é infinitamente interpretável. A percepção da arquitectura decorre da conjugação de múltiplos pontos de vista, da reconstituição mental de inúmeros espaços.

I do not believe in the objectiveness of photography. Despite the attempt of many to erase life’s subjective contingencies that contaminate the pure spaces drawn by architects, the image of an architectural object - or of any object - is always the imposition of a point of view. Of the photographer, of the one who chooses the light, time of exposure, type of lens or the camera. Whatever the case, it will always imply a choice or infinite choices and it is by definition (definitely?) subjective.
I do not believe in the myth of the architectural photographer as a contemplative, who thinks it is possible to choose, beforehand, one single synthetic perspective that combines everything a work of architecture encompasses. Architecture depends on many variables, it is never fully apprehended; it is, on the contrary, endlessly interpretable. The perception of architecture stems from the combination of multiple points of view, from the mental reconstitution of numerous spaces.


[Luís Urbano, Comissário da exposição “Mundo perfeito” / Curator of the “Perfect world” exihibit.]





A Exposição «Mundo Perfeito» dá a conhecer o trabalho fotográfico de Fernando Guerra, assinalando o lançamento do livro com o mesmo nome. Projectos realizados em território nacional ou por arquitectos portugueses no estrangeiro, passam por aqui algumas das melhores obras de arquitectura portuguesa contemporânea.
Poucas áreas da fotografia se debatem tanto com a busca da «verdade» como o caso da arquitectura. Como se ao fotógrafo fosse exigido um olhar neutro, sem mise-en-scène, uma super-visão absoluta da obra. Discussão em torno de um impossível: a imagem encerrará sempre a representação do espaço, sempre um subjectivo. Em Fernando Guerra a fotografia é um trabalho exaustivo de procura da abstracção por detrás da arquitectura; gesto que se revela por vezes mais fiel à visão de autor do que à realidade da obra. As viagens que nos oferece vão além do espaço material, penetrando no mundo das ideias, dos conceitos, dos conteúdos. Mais do que dar a conhecer, a sua fotografia convida a descobrir.
O livro «Mundo Perfeito» pode ser adquirido nas principais livrarias ou encomendado directamente no sítio web de Fernando Guerra: Últimas Reportagens. A exposição estará patente na Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto até ao dia 6 de Junho.



Perfect World –exhibition and book
«Perfect World» presents the architectural photography of Fernando Guerra, featuring selected works of Portuguese contemporary architecture.

Parabéns ao Abrupto

Critiquei, por mais que uma vez, o Abrupto por razões de design web. Citei, por mais que uma vez, o blogue de Pacheco Pereira pela inteligência das suas reflexões sobre a blogosfera portuguesa.
Hoje o Abrupto completa seis anos de existência, assinalando a data com um poema inédito - e bastante divertido - de Vasco Graça Moura. Também A Barriga de um Arquitecto confessa a sua perplexidade pela «obsoletização» a que está votada pelo acordo ortográfico. A justificar uma micro-causa?

Parabéns ao JPP.

DARCO Magazine 02


DARCO Magazine 02. Click to read (Portuguese text only).

Já se encontra à venda o segundo número da DARCO Magazine. Neste volume encontram-se em destaque obras do Estudio Barozzi Veiga, de Wespi De Meuron e de Paulo Providência.
A DARCO é uma revista publicada pelo Directório ARCO onde se destaca a apresentação detalhada de obras de arquitectura, conjugando a fotografia e desenhos técnicos de projecto. Este número está também disponível para consulta online.

dARCO Magazine 02
The second volume of DARCO Magazine has just been released. This issue features works by Estudio Barozzi Veiga, Wespi De Meuron and Paulo Providência.
DARCO Magazine is a portuguese publication produced by Directório ARCO and is available online.

...


DIAGRAMMING FOR THE PEOPLE
Texto publicado na revista DARCO Magazine 02.

Dizia Gonçalo Byrne que em arquitectura deveríamos considerar sempre em primeiro lugar a obra construída, depois o projecto que lhe deu origem e apenas num distante terceiro lugar o seu autor. Só a obra é sujeita ao atrito da terra e à lenta apropriação do público. A obra de arquitectura existe entre a resistência e a capacidade de adaptação ao futuro, firmando no tempo a sua impressão cultural e um registo mais perene da dimensão teórica.

Que vivemos numa época contaminada pela imagem é uma afirmação banal. Partindo daqueles princípios enunciados por Byrne poderíamos dizer que isso contribuiu para uma inversão desta ordem de valores. Quantas vezes a projecção mediática se centra, em primeiro lugar, sobre o arquitecto, para se debruçar sobre o que ele vai fazer e onde. O que corresponde a um descentramento da teoria; o abandono da reflexão em benefício da antecipação. O projecto ascende assim sobre a obra; as suas imagens extravasando a novidade, o fantástico, os sonhos e as ambições deste tempo. Nunca como hoje o “render” ocupou as revistas de arquitectura para ilustrar até as suas capas – uma simulação que não requer já reflexão para se legitimar, como se a imagem, espectacular e bela, se bastasse a si mesma.

Um mundo sobrecarregado de imagem comporta o risco de relativização dos seus significados mais profundos, em detrimento da celebração da superfície. Também os “media” contribuem para promover ideias simples e reduzir o complexo processo criativo da arquitectura em rasgos de génio individual. É por certo mais fácil celebrar um objecto concreto do que o processo abstracto que lhe dá origem. E, no entanto, é a visão colectiva, colaborativa, entre promotores e projectistas que define o sucesso da realização arquitectónica – de uma arquitectura que é hoje muito mais que uma das artes do desenho mas todo um processo de gestão de objectivos, de meios, de tempos, de bases contratuais, de estratégias de implementação.

Devemos por isso ser prudentes relativamente aos juízos que fazemos sobre as imagens da arquitectura – tanto na celebração irreflectida da sua grandeza como na negação preconceituosa e desconhecedora de conteúdos menos aparentes. Cabe-nos, enquanto profissionais da área, o dever de distinguir esses conteúdos e produzir sobre eles inteligência crítica. Identificar as diferenças e trazer à luz os contextos e os processos que lhes dão origem.

Também enquanto arquitectos afirmamos repetidas vezes o papel de coordenação entre os domínios técnicos presentes em projecto. Fazemo-lo com um sentido adquirido de legitimidade, raras vezes questionando os motivos que o justificam. Raras vezes meditando sobre a responsabilidade (“accountability”) devida a essa função, e muitas vezes procurando levar a reboque os promotores e restantes técnicos envolvidos em nome de pouco mais do que a intenção estética; do que a “imagem”. Nos vazios deixados pelo cliente, na ausência de uma cultura programática que processe com exigência os objectivos do projecto e os meios à disposição para o concretizar, arquitectos assumem o protagonismo. Fracos clientes de nós próprios, parecemos esquecer que as verdadeiras ferramentas do projecto de arquitectura são hoje os orçamentos, os calendários, os regulamentos, as políticas, as condições do sítio – limitações que encerram todas as oportunidades e podem potenciar as soluções mais inovadoras.

Talvez pudéssemos dizer que, na sua aparência, Portugal é um país resistente à cultura da imagem. O discurso consolidado das academias parece ter eco no conservadorismo da instituição pública e na desconfiança de promotores e do público perante a inovação e a audácia. Mas talvez a nós, arquitectos, seja devido mais esclarecimento. Pois que tantas vezes julgamos uma arquitectura mais espectacular na sua forma ignorando os complexos processos que a sustentam – a dinâmica económica, a hiper-racionalização e gestão complexa que nela se processa.
E assim devemos questionar se não é alguma da nossa arquitectura, na sua expressão reservada, acanhada e modesta, mais devedora de uma contenção meramente formalista, também ela devedora de uma mera lógica de “imagem”. Que o superficial também se pode esconder sob muitas formas, na ambiguidade retórica de uma parede branca.