Things will get worse before they get worse

As coisas vão piorar antes de piorar.
Lembro-me de ler o artigo da Ann Pettifor, Debtonation: how globalization dies, no Open Democracy em 2007. Foi a primeira vez que vi alguém sugerir, como um facto consumado, que a economia global estava a chegar ao fim. Ainda que tenha levado os seus argumentos a sério, não fiquei tão preocupado assim para ler a sua exposição precedente de 2003 intitulada The coming first world debt crisis. É agora impossível ler esse texto sem um sentido de quase incredulidade – a calamidade económica do nosso tempo apresentada, em termos simples e cristalinos, cinco anos antes de acontecer.

Os últimos meses demonstraram que já nada é inimaginável. O Spiegel Online vai tão longe a ponto de se interrogar sobre a possibilidade da ocorrência de falências estatais na zona euro – ler Iceland on the Thames: Can countries really go bankrupt?
Apesar dos esforços da União Europeia para controlar os gastos de défice nos últimos anos, os orçamentos nacionais da maior parte dos estados membros encontram-se em condições pouco saudáveis. Com uma desmedida desaceleração económica em mãos, os governos estão a pôr de lado as suas agendas de consolidação orçamental para assegurar crédito acessível e manter as empresas a funcionar. E, no entanto, os números crescentes do desemprego são a revelação sombria das limitações do poder governamental. Projecções negras já se avançam para 2010 e os sinais de uma vasta crise social começam a emergir no horizonte.

Perante estes factos é difícil sentir algum tipo de entusiasmo perante o valor latente da crise como renovador cultural. A crise não é uma abstracção intelectual que vá transformar suavemente as mentalidades contemporâneas. Começa já a atingir as classes mais desfavorecidas e vai representar um passo atrás inevitável para as gerações mais novas que agora se abeiram do mercado de trabalho. Na próxima década vamos assistir a uma transformação sem precedentes das regras laborais. O paradigma da protecção será substituído pela incerteza e pelo medo. E as coisas podem mesmo vir a tornar-se violentas.
Não tenho sobre isto nenhum preconceito ideológico. As coisas são o que são. Podemos ter alguma satisfação por ver a cultura da não-crise a desfazer-se em chamas. E aquelas torres no Dubai já não parecem tão sedutoras assim. Mas o peso da História é uma coisa assustadora. E, para a maioria de nós, é algo que poderemos estar prestes a sentir pela primeira vez nas nossas vidas.

I remember reading Ann Pettifor’s article Debtonation: how globalization dies, on Open Democracy, back in 2007. It was the first time I heard someone suggesting, matter-of-factly, that the global economy was coming to an end. As much as I took her arguments seriously I wasn’t so worried as to even read her previous piece dated back to 2003, titled The coming first world debt crisis. It’s impossible to read it now without a sense of disbelief –the economic calamity of our times presented, in plain and simple terms, five years before it happened.

The past months have shown that nothing is unbelievable anymore. Spiegel Online now goes so far as to question the possibility of state bankruptcies in the euro zone – read Iceland on the Thames: Can countries really go bankrupt?
Despite European Union efforts to control deficit spending in recent years, the national budgets in most EU member states are in pitiable condition. With a major economic breakdown at hands, governments are now putting away their budget consolidation agendas to secure accessible credit and keep companies up and running. And still, the growing unemployment figures are a gloomy revelation of the limitations of government power. Dark projections are already looming for 2010 and the signs of a major social crisis are starting to emerge on the horizon.

With these facts at hand it’s hard to feel any sort of excitement for the latent value of the crisis as a cultural renovator. This crisis is not an intellectual abstraction that’s going to transform contemporary mentalities in silky fashion. It’s already starting to hit the low and middle classes and will represent an inevitable setback for younger generations now stepping up to the job market. In the next decade we will witness an unprecedented transformation of labor rules. The paradigm of protection will be replaced by a realm of uncertainty and fear. And it may get violent.
I’m not being ideological about it. It is what it is. We may feel thankful that the non-crisis culture is coming down in flames. And those towers in Dubai don’t feel so sexy anymore. But the weight of History is a daunting thing. And, for most of us, it’s something we may be about to experience for the first time in our lives.

3 comentários:

  1. Daniel, thanx for the reaction, but I am tempted to repeat the old apocalyptic saying: we have nothing to fear except fear itself.
    Like time, also insecurity regarding the future has always been unevenly distributed.
    Sure, there will be some suffering. But there will also be renewal. To adopt this optimism may also be a survival mode, more than a love of abstraction.

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  2. Pedro, obrigado pela visita. É um facto. Estamos condenados a sobreviver - ou a morrer tentando. Fui ver ao Google e descobri que essa famosa citação do Roosevelt - que eu pensava referir-se à 2ª Guerra Mundial - vem de um discurso de 1933 dito exactamente no contexto da grande depressão. Há quem chame a isso de "exuberância irracional" - não fui eu que inventei! Mas talvez seja hora de darmos ouvidos aos grandes da História. Disse o Churchill que "o pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade, o optimista vê a oportunidade em cada dificuldade". Façamos por isso.
    Abraço e volta sempre. ;)

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  3. Tenho 25 anos e estou agora a iniciar-me no mercado de trabalho, primeiro emprego, primeiro atelier, não me posso queixar. Ouvindo os telejornais destes ultimos meses começam a afluir-me à meste imagens dos livros de história do ciclo, da época de Grande Depressão (as filas de desempregados, as senhas de comida, a famosa senhora com os filhos que escondem a cara) e fico bastante assustada com a evidência de que isso já acontece, de certo modo, nas camadas mais baixas da chamada "classe média". considerando-me incluida na "camada média" da classe média, não será muito difícil encontrar-me eu mesma, amigos ou família na mesma situação. O consumismo e o conforto virtual (comprado a crédito) dos anos 90 conduziram a sociedade à bancarrota....e a renovação, normalmente, vem pelo fogo e pelo sangue. Serão tempos difíceis, atrevendo-me mesmo a dizer, serão os últimos tempos da sociedade ocidental como a conhecemos... esperemos conseguir, de facto, sobreviver e aprender a viver de outra maneira.

    cumprimentos e parabéns pelo blog
    sílvia amaral

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