Chicotada na mediocridade



Um jovem baterista frequenta o mais reputado conservatório de Nova Iorque alimentando o sonho de se tornar um músico de jazz fora de série. É então que um mítico mas temível professor o selecciona para fazer parte da banda da escola, dando-lhe a conhecer um tortuoso caminho de aprendizagem que exige, literalmente, suor, lágrimas e até sangue, acabando por subjugar todos os outros aspectos da sua vida e comprometer a sua própria sanidade.

Dirigido por Damien Chazelle, um cineasta de apenas trinta anos, Whiplash é um autêntico extraterrestre na lista de candidatos para os Óscares. A sua enérgica realização conta com o confronto de representação entre Miles Teller – actor revelação do excelente The Spectacular Now – e um assombroso J.K. Simmons no papel do professor, tendo alcançado a nomeação para o Óscar de melhor actor secundário.

O filme não é alheio a alguma controvérsia pela violência imposta pelo professor aos seus alunos. As suas aulas são um espectáculo catártico de abuso verbal, encenações distantes da realidade do ensino musical mas que ensaiam, com grande teatralidade, o custo pessoal que pende sobre aqueles que se entregam ao caminho da verdadeira excelência. Não está assim em causa legitimar a brutalidade do seu comportamento – ele próprio acaba por revelar uma consciência pesada ao mentir sobre a causa da morte de um ex-aluno, numa cena crucial do filme, e a história não foge a mostrar-nos tudo aquilo que é deitado a perder quando se persegue uma obsessão.

Mas Chazelle foge a resolver a “moral” da história ao espectador. O seu filme acaba por revelar-se um tributo a todos aqueles que entregam a sua vida em busca da perfeição, tornando este mundo um lugar melhor com a dádiva da sua arte. A verdade de Whiplash transcende afinal o campo musical para se tornar universal. A grandiosidade só está ao alcance daqueles que se dispõem a pagar o preço da sua paixão em muitas horas de trabalho e empenho, seja no jazz ou em tantas outras formas de expressão humana. Um dos grandes filmes do ano, entusiasmante e provocador, para ver e discutir durante horas a fio.

1 comentário:

  1. Um professor carrasco que seria na real acusado de Bullying :) Assisti o filme e ele exagera em algumas partes, como nas que o ator "sangra", mas no contexto todo é uma boa história de superação; aliás essa foi a mensagem que o filme me passou: superação. Agora sobre o Budy Rich, ele era um baterista perfeccionista e exigia isso dos músicos que tocavam com ele. Budy foi um dos melhores e mais técnicos bateristas que existiu e não era um animal tocando bateria, pelo contrário, doava-se ao instrumento, mostrando sua técnica apuradíssima e que dificilmente será igualada.

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